sexta-feira, 1 de julho de 2016

Artigo Ânima e Ânimus


















INSTITUTO JUNGUIANO DA BAHIA
Fundamentos da Psicologia Analítica








Angela de Oliveira Belas - Arteterapia
Giselle Esmeraldo Cavalcanti - Psicotraumatologia
Nara Lídia Peixoto de Lima - Arteterapia
Valter Jose Adriano - Psicotraumatologia







ANIMA E ANIMUS



















Salvador-BA
2014




INTRODUÇÃO



Super-Homem – a Canção
Letra e música de Gilberto Gil
Ano : 1979

Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada
Minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver

Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe
O Super-Homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher


Essa letra de música do cantor-compositor Gilberto Gil é muito apropriada para introduzir o tema objeto desse artigo.  Mal compreendida por alguns que viam na letra uma apologia ao homossexualismo, Gil refuta tal leitura, dizendo de forma literal que “O que ela tem de certa forma é sem dúvida, uma insinuação de androginia (...) me  interessava revelar esse embricamento (sic!) entre homem e mulher, o feminino  como complementação do masculino e vice-versa, masculino e feminino como duas qualidades essenciais ao ser humano.[1]
É o feminino que é homenageado nessa canção e não propriamente a mulher.  O que faz o homem da música viver de uma forma plena, inteira, é a sua alma, a sua anima , sua porção mulher, parte integrante do seu ser.
A noção de uma androginia essencial na constituição psíquica do ser humano é remota, presente na obra de Platão O Banquete, especificamente no discurso de Aristófanes que declara que para conhecer o enorme poder de Eros, do amor, é necessário conhecer a história da natureza humana. Remete-se então ao mito da androginia que é o mito da nossa unidade primitiva e posterior mutilação.
Em primeiro lugar, três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa; andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é que um nome posto em desonra. Depois, inteiriça era a forma de cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois rostos sobre um pescoço torneado, semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia supor. E quanto ao seu andar, era também ereto como agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma roda, do mesmo modo, apoiando-se nos seus oito membros de então, rapidamente eles se locomoviam em círculo. Eis por que eram três os gêneros, e tal a sua constituição, porque o masculino de início era descendente do sol, o feminino da terra, e o que tinha de ambos era da lua, pois também a lua tem de ambos; e eram assim circulares, tanto eles próprios como a sua locomoção, por terem semelhantes genitores. Eram por conseguinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas voltaram-se contra os deuses(...)
Zeus então e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não podiam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a raça — pois as honras e os templos que lhes vinham dos homens desapareceriam — nem permitir-lhes que continuassem na impiedade.
Depois de laboriosa reflexão, diz Zeus: "Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tornado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. (Platão, 1991, p 57-58)

Uma vez cindidos deixavam os humanos de possuírem a força que os fazia equivalentes a deuses e ficavam condenados a viver buscando resgatar a sua outra metade. Essa unidade primordial residiria ainda no inconsciente da psique humana e, tal como outras matérias dessa dimensão da nossa psique, aparece-nos não de forma direta, mas através dos sonhos e da necessidade humana de buscar reconstituir essa inteireza.
Essa porção mulher que existe em cada homem independente da identidade sexual do seu ego, que a psicologia junguiana traduz como o feminino interno do homem é por Jung denominado como anima; por sua vez, o masculino interno na mulher recebe a denominação de animus . Tais palavras, anima e animus , têm origem latina, com os significados de alma (anima ) e espírito (animus ), respectivamente.
O objetivo deste artigo é fazer uma breve revisão de aspectos conceituais do tema anima e animus da psicologia junguiana, sem a pretensão de ser exaustiva e completa.
Apesar de todos os avanços na civilização ocidental em termos de conquistas de direitos femininos, de redefinição de papéis entre os gêneros, de reconhecimento de novos arranjos familiares, e das ligações homo afetivas ainda há um forte condicionamento sociocultural que dificulta sobremaneira ao ente masculino identificar e lidar de forma consciente com o seu feminino interno.  A subvalorização cultural das características atribuídas ao feminino, de sensibilidade, delicadeza, intuição, emotividade e receptividade, dentre outras, contribui significativamente para isso.
O fato é que desde muito cedo os nossos meninos são compelidos, com maior ou menor sutileza a reprimirem qualquer manifestação “excessiva” de tais características a fim de garantir que seu ego e, consequentemente, sua persona, sejam formados nos moldes do que se atribui ao masculino.
Essa repressão do feminino interno no indivíduo do sexo masculino não resulta no desaparecimento desse feminino.  Nesse sentido Jung sinaliza num texto de 1928 “O Eu e o Inconsciente”, que
... A repressão de tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.  A imago da mulher (a alma) torna-se com a mesma naturalidade, o receptáculo  de tais pretensões; por isso o homem em sua escolha amorosa, sente-se tentado a conquistar a mulher que melhor corresponda à sua feminilidade inconsciente; a mulher que acolha prontamente a projeção de sua alma. (Jung, Obra Completa 7/2  p 79.).

A colocação de Jung refere-se à anima, porém, pelo lado da mulher, se a manifestação “excessiva” de características masculinas oferece-lhe dificuldades de ordem relacional, por outro lado, frequentemente, para afirmar-se e ser reconhecida no âmbito profissional, por exemplo, vê-se impelida a conter a expressão da sua natureza predominantemente feminina imitando muitas vezes um padrão comportamental mais supostamente masculino. Essa imitação não se confunde com o uso consciente da função do animus que será tratada mais adiante.
Numa formulação que contempla os dois sexos Hall (1983, p. 21)  declara que
 “As qualidades culturalmente definidas como impróprias à  identidade sexual do ego tendem a ser excluídas até mesmo do alter ego ou sombra, e formam, pelo contrário, uma constelação em torno de uma imagem contra-sexual: uma imagem  masculina (animus ), na psique de uma mulher e uma imagem feminina (anima ), na psique de um homem.

Essas imagens às quais o autor se refere são arquetípicas.  Imagens psíquicas, cada qual é uma configuração que se constitui a partir de uma estrutura arquetípica básica.
Assim, conforme Jung, ainda se referindo ao homem, Há uma imagem coletiva da mulher no inconsciente do homem, com o auxílio da qual ele pode compreender a natureza da mulher. (op cit p 80).  Em relação ao animus , no mesmo livro Jung pondera que “Se não é simples expor o que se deve entender por anima , é quase insuperável a dificuldade de tentar descrever a psicologia do animus ”. (op cit, p96).  E prossegue em outro trecho afirmando que
“Poder-se-ia supor que o animus, à semelhança da anima, se personifica com um homem. A experiência, porém, mostra que tal suposição é só parcialmente verdadeira; aparece uma circunstância inesperada, configurando uma situação inteiramente diversa da do homem. O animus  não se apresenta como uma pessoa, mas como uma pluralidade de pessoas. (op cit. P98)
As mudanças históricas sócio-culturais desde que Jung formulou tais conceitos especialmente no que toca aos papéis de homens e mulheres, à divisão do trabalho entre esses dois gêneros, à maior transparência social em termos da diversidade de possibilidades de uniões afetivas e de identidades de gênero, são consideradas como suficientes para afetar o conteúdo e a aparência da anima  ou animus, e o estudo desse tema se reveste hoje possivelmente de  maior complexidade, comportando novos desafios.  Apesar disso, concordamos com Hall quando diz que “...o papel essencial da anima  e do animus  como guia do psicopompo permanece tão claro como nas primeiras descrições de Jung”. (1983, p.23).
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DESENVOLVIMENTO


Dentro da concepção de psique humana oferecida pela psicologia analítica, anima e animus são estruturas relacionais, tal como o é a persona, sendo que enquanto esta serve ao propósito de adaptação do ego ao mundo exterior, a estrutura representada pelo par anima /animus atua na relação do ego com seu mundo inconsciente.
Mesmo quando as imagens anímicas de animus e anima são projetadas em outra pessoa, e este é o modo usual como a anima ou o animus é experimentado, elas atendem à função de ampliar a esfera pessoal de sua consciência, estimulando o ego, pelo fascínio envolvido na projeção, a expressar modos de ser que ainda não foram integrados. Se tais modos de ser puderem ser integrados após a retirada da projeção, ocorrerá um aumento do conhecimento consciente.
Jung assinala que essas duas figuras, anima e animus  pertencem ao “fundo obscuro da psique e podem assumir numerosos aspectos.  Habitam uma esfera de penumbra e dificilmente percebemos que ambos, anima  e animus , são complexos autônomos que constituem uma função psicológica  do homem e da mulher. (Jung, Obra Completa 7/2  p 101.).
Se não forem utilizados intencionalmente como funções continuarão a ser complexos personalizados.  Ou, como diz Hall...Se a anima  ou animus  projetados não forem integrados o mais provável é que o processo volte a ocorrer com alguma outra pessoa. (op cit, p.22)
Quanto à função intrapsíquica da anima ou do animus, seu papel dentro do indivíduo, do mesmo modo como ocorre em forma projetada “desvia o indivíduo dos modos habituais de funcionamento, desafia-o a ampliar os horizontes e a avançar para uma compreensão mais abrangente de si mesmo”. (Hall,1983, p.22). Se tal ampliação não ocorre, ao invés de serem usados como função para se relacionar com o inconsciente, atuarão como personalidades autônomas produzindo transtornos na relação do indivíduo com as dimensões do seu mundo interno e dificuldades de relacionamento afetivo. 
Além dessa ampliação do conhecimento de si mesmo, “...A integração parcial da anima  ou animus  (que não pode ser tão completa quanto a da sombra) auxilia a capacidade de lidar com a complexidade de outras pessoas, assim como de outras partes da própria psique”. (Hall,1983, p.23).
Quanto à impossibilidade de integração total da anima e animus, entendemos que isso se deva à região da psique onde se situam; no fundo obscuro da psique, guardiões que são do umbral, conforme  Jung (op it, p.101),  A integração, ainda que parcial à consciência entretanto só pode ser feita uma vez que se conheça seu conteúdo, o que envolve um processo de dialogar dando voz a essas personalidades subjetivas que residem no interior da nossa psique e que nos conduzem aos domínios do inconsciente coletivo o que não parece ser uma tarefa fácil, uma vez  que, sendo a imagem da anima  ou do animus  uma estrutura inconsciente existente na própria fronteira  do inconsciente pessoal e coletivo ela é essencialmente  abstrata e carece das qualidades e matizes sutis de uma pessoa real (Hall, op cit.p23)
Esse diálogo Jung empreendeu com sua anima.  Foi surpreendido quando em certa ocasião perguntava-se sobre a natureza do que fazia, que não lhe parecia ciência, e ouve uma voz do eu interior dizendo-lhe tratar-se de arte, e com ela argumentou criticamente, discordando inclusive da resposta.  O fato é que a partir daí e por um bom tempo em sua vida manteve esse diálogo com sua anima, inicialmente na forma de diálogo mesmo e depois através de cartas a ela direcionadas, dado que se percebeu tímido diante dessa presença invisível conforme relata em Memórias, Sonhos e Reflexões(2012, p 230-232). 
Nesse mesmo texto Jung admite que só lentamente foi aprendendo a distinguir seus pensamentos dos conteúdos da voz  da anima  e pontua: O mais importante é diferenciar  o consciente dos conteúdos do inconsciente.  É necessário, por assim dizer, isolar estes últimos e o modo mais fácil de fazê-lo é personifica-los, estabelecendo depois, a partir da consciência, um contato com estes personagens. (Jung,2012, p 231-232).
 Assim, anima animus são instrumentos para o contato do ego com os conteúdos do inconsciente, possibilitando o encontro com o si-mesmo. Mas, embora a anima e o animus possuam a mesma função na psique do homem e da mulher, apresentam, conforme já sinalizado, características específicas.
Além disso, para Jung (citado por Emma Jung, 2008), anima  e animus  podem ser considerados, cada qual como um “complexo funcional que se comporta de forma compensatória em relação à personalidade externa, de certo modo uma personalidade interna que representa aquelas propriedades que faltam à personalidade externa, consciente e manifesta”.
O animus é a contraparte masculina na psique da mulher. Tem como primeira influência o pai, mas é constituído também pelas demais figuras masculinas que venham a se relacionar afetuosamente ao logo do desenvolvimento da mulher.
O animus acumula as experiências ancestrais dos encontros da mulher em relação ao homem. A partir dessas vivências, a mulher produz a imagem ideal do homem que procura. Como já foi citado, o primeiro referencial do animus é o pai, depois se transfere para o mestre e ídolos, projetando, por fim, esta imagem ideal no homem amado. A respeito disso, Nise da Silveira (1992) afirma que:
O animus condensa todas as experiências que a mulher vivenciou nos seus encontros com o homem no curso dos milênios. E é a partir desse imenso material inconsciente que é modelada a imagem do homem que a mulher procura. O primeiro receptáculo do animus será o pai. Transfere-se depois para o mestre, para o ator de cinema, o campeão esportivo ou o líder político (Silveira, 1992, p. 85).


A imagem do pai e dos homens que passaram pela vida da mulher serão, então, projetadas no homem amado. A ele caberá a imagem ideal que foi construída, embora muitas vezes impossível de ser vivenciada na vida real, podendo surgir as decepções e frustrações. Ortola (2011, p. 44) complementa que “ao criar expectativas em relação ao outro, a mulher acaba muitas vezes se frustrando, não percebendo que é o seu homem interior que tem de primeiro ser levado a sério para que esse outro seja por ela melhor tolerado”.
Para Silveira (1992, p.87) “as personificações que o animus assume nos sonhos, contos de fada, mitos e outras produções do inconsciente podem variar em larga escala: formas animais, selvagens, príncipes, criminosos, heróis, feiticeiros, artistas, homens brutos e homens”. O animus apresenta quatro estágios de desenvolvimento, a seguir:
Estágios de Desenvolvimento do animus
1° Estágio
Força
Força física
O atleta ou homem musculoso
Ex.: Tarzan, o herói da floresta
Estágio
Ato
Iniciativa e capacidade de planejamento
O homem de ação
Ex.: Ernest Hemingwa
Estágio
Verbo
Orador público
O professor ou clérigo                
Ex.: Lloyd Georg
Estágio
Sentido
Pensamento
O sábio
Ex.: Gandhi
Tabela 1 - Estágios de Desenvolvimento do animus
Fonte: Informações extraídas de Fraz (1977, p. 194)

Franz (1977, p. 194) descreve os estágios do desenvolvimento do animus  da seguinte maneira:
“o primeiro é uma simples personificação da força física —por exemplo, um atleta ou "homem musculoso". No estágio seguinte, o animus  possui iniciativa e capacidade de planejamento; no terceiro torna -se "o verbo", aparecendo muitas vezes como professor ou clérigo; finalmente, na sua quarta manifestação o animus  é a encarnação do ''pensamento". Nesta fase superior torna-se [...] o mediador de uma experiência religiosa através da qual a vida adquire novo sentido”.

Levando em consideração as características dos estágios de desenvolvimento e também que o animus é a energia masculina presente no inconsciente da mulher, pode-se afirmar que ela pode influenciar e direcioná-la a assumir atitudes características positivas dos homens, como objetividade, controle afetivo, racionalidade, sociabilidade, força emocional, criatividade, espiritualidade, coragem (Pereira, 2014). Realizando um processo de autoconhecimento, com o propósito de estar em equilíbrio com o animus , a mulher poderá potencializar a criatividade, enriquecer o lado profissional, assim como também, construir uma relação saudável com um homem.
Entretanto, quando a pessoa não consegue se conectar ao próprio inconsciente e acessar as informações relacionadas ao animus , os aspectos negativos deste podem ficar em evidência, emergindo características como brutalidade, indiferença, etc. Segundo Pereira (2014), além de prejudicar as relações afetivas,
Isto poderá refletir nas suas condutas de mulher no sentido de torná-la mais fria e indiferente a exposição de seus sentimentos e emoções, podendo inclusive tornar-se uma mulher arrogante e extremamente agressiva. Além disso, poderá a mulher colocar a sua racionalidade acima de tudo em sua vida e atitude, ou seja, as suas relações predominantes serão mais os objetos do que as pessoas. (Pereira, 2014, p. 5)

A anima é a contraparte feminina na psique do homem. Tem como primeira influência a mãe, mas é constituída também pelas demais figuras femininas que possa vir a se relacionar afetivamente ao longo da vida do homem.
Durante a primeira metade da vida, a anima irá projetar-se sobre seres reais. Já na segunda metade, quando essas projeções externas já estiverem exauridas, emerge a mulher interna que por anos foi reprimida, principalmente em função de crenças construídas em torno da necessidade de contenção dos sentimentos. Segundo Silveira (1992, p. 84) este homem possivelmente, se encontrará “frequentemente amuado, tornar-se-á hipersusceptível, surgirão intempestivas mudanças de humor, explosões emocionais, caprichos”.
Nise da Silveira (1992, p. 84) complementa que:
“A anima  será transferida, sobretudo, para a mulher com quem o homem se relacionará amorosamente, provocando os complicados enredamentos do amor e as decepções causadas pela impossibilidade de o objeto real corresponder, plenamente, à imagem proveniente do inconsciente.” (Silveira, 1992, p. 84)

Assim como acontece com o animus , a anima  apresenta-se personificada nos sonhos, nos contos de fadas, no folclore de todos os povos, nos mitos e nas produções artísticas. e também poderá desenvolver-se e transpor estágios evolutivos.
Da mesma forma que o animus , a anima  também apresenta quatro estágios de desenvolvimento, a seguir:
Estágios de Desenvolvimento da anima
1° Estágio
Eva
Relacionamento instintivo e biológico
Estágio
Helena
Romântico e estético / Caracterizado por elementos sexuais
Estágio
Maria
Devoção espiritual
Estágio
Sofia
Sapiência
Tabela 1 - Estágios de Desenvolvimento do animus
Fonte: Informações extraídas de Fraz (1977, p. 194)

Para Jung apud Franz :
“O primeiro está bem simbolizado na figura de Eva,que representa o relacionamento puramente instintivo e biológico; o segundo pode ser  representado pela Helena de Fausto:ela personifica um nível romântico e estético que,no entanto, é também caracterizado por elementos sexuais. O terceiro estágio poderia ser exemplificado pela Virgem Maria – uma figura que eleva o amor (eros) à grandeza dea devoção  espiritual. O quarto estágio é simbolizado pela Sapiência, a sabedoria que transcende até mesmo a pureza e a santidade, como a sulamita dos cânticos de Salomão.” (Franz, 1977, p. 185)

            Observa-se que enquanto o animus é exemplificado por certos atributos, a anima  é exemplificada através de personagens. Isso se dá em função do homem desenvolver-se a partir da relação com figuras femininas na sua vida, enquanto o desenvolvimento feminino ocorre por meio de intervenções/influências (Jung, 2008) e isso nos remete à  afirmação de Jung de que  o animus  não se apresenta como uma pessoa, mas como uma pluralidade de pessoas.
 No artigo O Complexo Paterno na Psique feminina e a sua influência nos relacionamento heterossexuais numa perspectiva da Psicologia Analítica, Chagas e Campos enfatizam que
“O homem interior não é uma imagem única, pronta e definitiva; é uma imagem polarizada, em alguns casos, ou muitos, ela é fragmentada e reflete várias imagens com características múltiplas; essa imagem está passível de desenvolver-se, transformar-se, evoluir. (p 8)

Quando a retirada da imagem da anima em relação à sua primeira referência feminina (geralmente a mãe) não se realiza de maneira satisfatória, acontece a transferência da anima  (projeta-se a imagem da mãe) para sua parceira conjugal. Isso, segundo Silveira (1992, p. 84) faz com que o homem espere “que a mulher amada assuma o papel protetor de mãe, o que o leva a modos de comportamento e a exigências pueris, gravemente perturbadoras das relações entre os dois”.
Se em equilíbrio a anima influenciará o homem com características femininas, tais como, vaidade, fraternidade, afetuosidade, intuição, beneficiando, assim, as relações pessoais. Segundo Pereira (2014), o homem que se permite influenciar pela anima torna-se menos racional e objetivo com as pessoas e também tende a ser mais cuidadoso, generoso, paciente, gentil, atencioso, zeloso com sua aparência e higienização, atento a sua saúde, harmonioso com seu corpo e se permite ser mais intuitivo.
Pelo lado do animus, sua transformação caminha paralela ao desenvolvimento da mulher, A aceitação do animus de acordo ainda com as autoras,

parece ser uma tarefa que caminha paralela à aceitação do próprio feminino.  Ela precisa do masculino para caminhar rumo à individuação após unir-se amorosamente a ele.  Mas essa união é também um caminho que se constrói depois de desidentificar-se  com esse masculino (Chagas e Campos).




CONCLUSÃO


Por todos esses aspectos, somos levados a acreditar ser animus /anima estruturas subjetivas da personalidade presentes no inconsciente mais profundo do indivíduo, capazes de revelar características da alma e nos conduzir para os domínios do nosso inconsciente coletivo. Representam uma ponte a ligar o interior ao exterior, o pessoal ao impessoal, o consciente ao inconsciente, o ego ao self. São figuras arquetípicas da psique, o que significa dizer, que não são moldadas por modelos e padrões externos, por forças que modelam a consciência do indivíduo, de fora para dentro, tais como família, sociedade, cultura e tradição, ao contrário, esses modelos é que sofrem influência desses arquétipos.  São forcas vitais básicas que exercem grande influência sobre os indivíduos e a sociedade. Estão situadas fora da psique, ligadas às formas e poderes espirituais, portanto, fora do alcance da percepção humana, e para percebê-las só através da observação de suas manifestações. São forças dinâmicas. São forças complementares e não opostas, como a sombra, estão presentes em homens e mulheres, porém distribuídas de formas diferentes, sendo responsáveis pela existência de diferenças fundamentais entre os sexos. Essa fluidez, complementariedade e diferenciação proporciona o desenvolvimento psicológico do individuo, desenvolvimento que se dá através do encontro do ego com animus /anima. Esse encontro representa a conexão do eu com um inconsciente mais profundo e embora a integração que possa resultar seja parcial, ainda assim é mais profundamente transformadora que a integração da sombra. Podemos concluir então que este encontro, ego – animus /anima , resulta potencialmente numa elevação do nível de consciência do individuo sobre si mesmo e sobre a influência do animus ou da anima  no seu comportamento e nas suas relações. E esse conhecimento se torna mais acessível por intermédio dos relacionamentos, entre homens e mulheres no caso de ligações hetero- afetivas. Portanto, a integração do animus /anima é fundamental para se dar uma conjunção saudável entre homem e mulher, para  o autoconhecimento e a individuação.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


HALL, James A.  Jung e a Interpretação dos Sonhos: Manual de Teoria e Prática.  São Paulo, Cultrix, 1983.

JUNG, Emma. Anima e Animus, São Paulo: Cultrix, 2006.

JUNG, C.G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012.

JUNG, C.G. Obras Completas.  Dois escritos sobre Psicologia Analítica. v. 7/2. O Eu e o Inconsciente. Petrópolis, Editora Vozes, 25 ed. Petrópolis,  RJ, Vozes, 2013.

JUNG, C.G. O homem e seus símbolos. 6 ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008

JUNG, C. G; Wilhelm, R. O segredo da flor de ouro, 12 ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2007.  

PLATAO. O banquete. 4 ed. São Paulo, Nova Cultural, 1991.

SANFORD, John A.  Os Parceiros Invisíveis: O masculino e o feminino dentro de cada um de nós. São Paulo, Paulus, 1987.

SILVEIRA, Nise da. Jung. Vida e Obra. 22 ed. São Paulo, Paz e Terra, 2011.

STEIN, Murray. Jung: O mapa da Alma: uma introdução. 5 ed. São Paulo, Cultrix, 2006.


















[1] WWW.gilbertogil.com.br/sec_disco_info.php?id=583&letra 

domingo, 5 de junho de 2016

A mocinha, a cidade e a torre











A mocinha, a cidade e a torre

Era uma vez uma mocinha sem teto que vivia em uma grande cidade, onde todas as pessoas lhe pareciam iguais.  Não importava: homens, mulheres, até mesmo as crianças lhe pareciam tão iguais...
Não conseguia enxergar bem as pessoas individualmente, pois a densidade demográfica era tão alta que, no seu tamanho humano, pequeno, não conseguia distinguir.  Partes, todo, tudo lhe parecia indistinto.
Tudo se movia numa espécie de rede de correntes que a arrastavam ora em uma ora em outra direção.  E a garota buscava... Buscava... ar, espaço, visão, dança e silêncio para ver e ouvir melhor.
Então a garota a muito custo consegue atingir a borda, o limite dessa cidade.  À sua frente consegue ver um imenso campo tomado por uma vegetação rasteira e à distância, uma torre muito alta.
Ansiosa e sem hesitar, a garota sobe até o mais alto da torre e ali estabelece sua casa.
A partir dessa torre ela consegue selecionar o que quer ver, ao mesmo tempo em que sempre tem a visão da totalidade.
Quando solitária, sinaliza para outro buscador chegar, sempre esperando novos buscadores.
17/08/2013
Angela Belas 

Que País é esse? Recortes e recontos musicais

Que País é esse? Recortes e recontos musicais
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam[?] no futuro da nação. (Renato Russo “Que País é esse”).

Tem dias que a gente se sente como quem partiu, ou morreu. A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu?
Na primeira citação, uma constatação. Um quadro poeirento e real que se destaca e domina a parede central da sala de estar do nosso País.  A gente estancou de repente neste ponto da sala, ou esse quadro cresceu tanto que engoliu a própria sala, sufocando-nos na sua poeira e ressuscitando em nós, que temos olhos que tentam ver e ouvidos que tentam escutar, sentimentos e dores dos que partiram, no momento que o fizeram, ou dos que morreram, no instante em que viram suas esperanças esfumarem-se?
Pai, afasta de mim esse cálice, afasta de mim esse cálice, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue.  Essa quase prece, quase mantra, musicada e socialmente referida, emerge no contexto_ aqui como intertexto_  junto com o monstro da lagoa. Mais uma vez o canto do Chico e do Milton, ecoa no espírito.  Tempos sombrios... Que sangue se mistura ao vinho desse cálice, Pai?  A voz do pensamento, quase calada, tremula, quando num fio, indaga: como tragar essa realidade?
Como  beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta


Tão sensível que qualquer beijo de novela me faz chorar, vejo o país nesse trágico momento, no preto e branco da imagem trazida pelo Zeca Baleiro em Flor da Pele: Um barco sem porto/Sem rumo, sem vela/ Cavalo sem sela/ Um bicho solto/ Um cão sem dono, um menino, um bandido [ e eu, diante disso, Zeca] Às vezes me preservo/ Noutras, suicido!

Ah, se houvesse um vapor barato! Mas o que há de barato nesse país? Vapor?  Só se for o vapor dos nossos sonhos, que tão caros foram para nós... tão caro nos custou.

Ao sul da roda da vida, um mundo de cabeça para baixo, desaba. As Moiras tecendo indiferentes, destinos,  e os pesadelos convertendo-se em realidade.   ...A noite esfriou,/O dia não veio,/O bonde não veio,/O riso não veio/Não veio a utopia/E tudo acabou/E tudo fugiu/E tudo mofou,/E agora, josé?

E agora?
Que país é esse?


Notas: Músicas citadas: Que País é esse (Renato Russo, 1978 ); Roda Viva (Chico Buarque, 1967); Cálice (Chico Buarque e Giberto Gil, 1973); Flor da Pele (Zeca Balero, 2002); E agora, José (Carlos Drumond de Andrade,musicada (1942) por Paulo Diniz. 

Uma Crônica: Eu nos Seminários- vivências textuais

Oficina de Leitura e Produção de Textos é um dos componentes curriculares de primeiro semestre do curso de Letras Vernáculas da minha Universidade. Uma disciplina eminentemente prática e que produziu em mim, as melhores expectativas. Vou escrever, escrever e escrever, dancei, feliz, em pensamento e de fato, escrevi.  Nosso bom Lucas, aluno de doutorado, assumindo com muita competência a condução da classe como parte do seu estágio docente, bem o sabe: importunei-o não poucas vezes com textos fora do script, como uma pedinte faminta por atenção literária.
Quando a palavra seminário foi proferida certo dia e definiu-se que seria este um dos instrumentos de avaliação, abriu-se o chão do céu onde eu me sentia viver e um calafrio percorreu-me  o corpo e a alma enquanto afundava nas águas do poço escuro do medo.  The winter  is coming, essa imagem do próximo livro da série literária The games of thrones , do George R.R. Martin, assomou à minha mente e vi-me quase congelada com tudo no meu entorno, mergulhada num inverno hostil e devastador.  Acabou-se o meu conforto.
No meu íntimo protestei com um pensamento meio anêmico, um débil lamento de alguém vencido: “mas eu queria apenas escrever”.  Com pesar constatei que não podia mais enganar a mim mesma.  Havia aprendido no decurso das aulas, que o próprio conceito de texto era bem mais amplo do que a definição a qual ainda me apegava; não se reduzia a texto escrito.  Entre outras referências, lembro-me de uma estudiosa na área, de sobrenome Goldstein, a quem fui apresentada através de um livro de sua autoria. A Goldstein enfatiza com todas as letras que toda produção linguística que apresenta sentido completo e unidade, é texto, seja oral ou escrito.   Com isso, realmente eu me senti a própria encarnação do senso comum.  O fato é que era chegada a hora de exibirmos nossa habilidade no texto oral.
Antes que chegasse a minha vez, ou melhor, a nossa vez, pois dividiria a experiência com três companheiros, assisti a três seminários.  O primeiro introduziu a temática dos gêneros textuais, e foi conduzido de forma muito dinâmica por um grupo da turma do Leste, de forma até lúdica.  Premiando acertos.  
Turma do Leste não era bem o nome da equipe, mesmo porque a turma do Leste da sala não se restringia à equipe. Na verdade essa menção constitui-se num pretexto para que eu possa fugir um pouco do tema e abrir um parêntesis para comentar certas características de ordem sócio-demográfica e espacial do micro espaço geográfico onde ocorrem nossas aulas.

Nossa sala é um espaço interessante, nada amplo, mas  que comporta em sua área, alguns pequenos territórios.  As pessoas neles se distribuem e se posicionam e a mobilidade é quase nula.
As tentativas, não poucas, de quebrar fronteiras, integrar, por parte do Lucas não lograram êxito.  Há um imenso vazio central e ocupações ao leste e oeste, considerando-se ser  o norte a posição onde estão o quadro e a carteira do professor.  Desse modo, se você estiver apresentando um seminário para a turma, se fixar o olhar no centro, estará focando o inexorável vazio.  Para não focalizar exclusivamente no lado oriental ou ocidental, terá que lembrar-se de mover a cabeça ora à direita, ora à esquerda.
As pessoas do leste distribuem-se mais ou menos uniformemente ao longo do contínuo nordeste-sudeste.  O Oeste, por outro lado é mais polarizado.  Há uma população claramente delimitada a noroeste e outra a sudoeste.
De um modo geral, o Oeste comporta estudantes de letras e o Leste, alunos advindos de outras áreas, como estatística e informática.
Retomando o tema do seminário, o grupo nos deu uma boa panorâmica da imensa quantidade de gêneros textuais, pois são muito diversos e numerosos os contextos comunicativos.  O agrupamento desses gêneros em certos tipos com características comuns, ajuda muito a situarmo-nos na sua variedade. 
Os gêneros do grupo denominado  prescritivos são os que se caracterizam por regular ou orientar acerca dos modos de agir ( bulas, contratos, manuais, dentre outros); os ficcionais, meus preferidos, agrupam o romance, o conto, a peça teatral e similares; os expositivos referem-se a atividades textuais como aulas, seminários (argh!), e até verbetes de dicionários.  Uma outra categoria é a dos argumentativos que contempla gêneros que se marcam pela discussão e argumentação em torno de questões controversas, como o editorial, o debate, o artigo de opinião, o discurso de acusação ou de defesa, entre outros.  Finalmente, vimos também que há gêneros que se aproximam e agrupam por terem em comum, a finalidade de relatar.
Os seminários que se seguiram foram a respeito de alguns gêneros selecionados e até sorteados quando objeto de interesse de mais de uma equipe. Nós perdemos em um sorteio em que pleiteávamos ficar com o gênero Artigo de Opinião.   Acabamos tendo que nos contentar com o  Editorial.
Confesso que o primeiro seminário foi o mais marcante para mim, além do da minha equipe, naturalmente.  Destacou-se, na apresentação, um aluno que eu nunca havia posto atenção e que nos deu um show de apresentação.  Foi uma grata surpresa.  Devo dizer que desfruto de um prazer de natureza estética ao assistir a uma boa apresentação.  Mas posso transitar facilmente para o tédio profundo ao me deparar com apresentações enfadonhas.  
O segundo aconteceu no tempo restante da aula e não chegou a chamar minha atenção.  Seu tema versou sobre notícias e reportagens, que são textos de caráter mais informativo, porém que muitas vezes escorregam para o opinativo, tênue que é a fronteira que os separa desses últimos.
 O terceiro seminário foi o nosso, sobre editorial. Trouxemos além da parte conceitual, elementos para analisarmos editoriais nacionais e internacionais publicados sobre o atentado das torres gêmeas em onze de setembro de 2001.  Fizemos uma boa pesquisa, para o tempo que tínhamos.  De um modo geral a apresentação foi de boa qualidade.  Minha performance, ai, minha performance...  Culpo a posição de ser a última a falar no último horário da aula, culpo o lanche servido quando me cabia expor, culpo a própria dificuldade de enxergar a tela a certa distância e numa posição oblíqua à mesma.  Melhor dizendo, tento distribuir culpas, mas não consigo: concentro tudo em mim mesma. 
O último seminário assistido por mim foi sobre o gênero crônica, e este texto tenta ser, no seu estilo, um produto do que ali se depreendeu do que se pode definir como característico da crônica:  uso do verbo no tempo pretérito; do pronome na primeira pessoa; uma tentativa de imprimir um pouco de humor ao que seria uma situação da vida cotidiana de uma estudante, tudo isso num texto em prosa, de relativo pequeno tamanho.
O verdadeiro  último seminário, confesso,  não assisti, pois, no dia programado atrasei-me para a aula, que versaria sobre o gênero Artigo de opinião. Não assisti-lo sem dúvida dificultou minha vida, não apenas por que fui merecidamente punida esperando na última posição da longa fila para uma correção prévia desta crônica, como também porque tive que correr atrás e pesquisar, as características do gênero.  Precisava das mesmas para produzir meu próprio artigo de opinião sobre um tema polêmico. Essa seria a nossa  última avaliação.  Não dava, portanto, para confiar na intuição simplesmente, ou basear-me num raciocínio lógico-dedutivo a partir da análise dos termos que integram o próprio nome do Gênero. 
A título de desabafo, eu tenho que dizer que fico intrigada e até desgostosa por esses pequenos auto boicotes que sempre que relaxamos acontecem. Uso propositadamente o verbo na primeira pessoa do plural porque estou certa de que esses auto boicotes não são produção exclusiva da minha vida, mas não importa. Já estou às voltas com o polêmico tema das mudanças nos arranjos familiares no Brasil e o conceito de família presente no Estatuto da Família proposto e em discussão pelo Congresso nacional.

Esse será o tema do meu artigo de opinião e estou no processo de sua construção.  Lá, convido-o leitor a conhecer outra Angela Belas, pois estarei usando uma  linguagem completamente diferente, apropriada à seriedade do tema e ao próprio gênero textual. Estarei usando o verbo na terceira pessoa, e não falarei a partir dos meus sentimentos, mas apresentarei argumentos para sustentar minhas proposições.  Estarei lá, ainda serei eu, embora mais objetiva. Serei eu tentando convencê-lo da pertinência do meu ponto de vista sobre o assunto, com argumentos que, pretendo, sejam sólidos e bem construídos. Deixo o desafio a todos para resistir à abordagem que adotarei no tratamento do tema e os convido a me encontrarem lá.

Angela Belas
                                                                                       13 de maio de 2016.